Morte e Vida da Teologia da Libertação
Os teólogos da América Latina e Caribe assumiram a chave interpretativa proposta por Simone Weil: “a plenitude do amor ao próximo é simplesmente ser capaz de perguntar: qual a tua aflição?”. A Teologia da Libertação quer pensar a fé cristã respondendo às perguntas dos aflitos. A Teologia da Libertação continua viva ao preocupar-se com os novos pobres do continente e assumir-se como uma teologia da compaixão.
Uma primeira Instrução Vaticana condenara, em
1984, o uso do marxismo na teologia católica e muitos disseram que fora a certidão
de óbito dessa teologia. Uma carta do papa João Paulo II dirigida ao episcopado
brasileiro, de 9 de abril de 1986, pede, entretanto, que não se abandone a
tarefa necessária desse fazer teológico: “…estamos convencidos, nós e os
senhores, de que a Teologia da Libertação é não só
oportuna, mas útil e necessária. Ela deve constituir uma nova etapa – em
estreita conexão com as anteriores – daquela reflexão teológica iniciada com a
tradição apostólica e continuada com os grandes padres e doutores, com o magistério
ordinário e extraordinário e, na época mais recente, com o rico patrimônio da
doutrina social da Igreja expressa em documentos que vão da Rerum Novarum a
Laborem Exercens”. E insiste: “Os pobres deste país, que tem nos
senhores os seus pastores, os pobres deste continente são os primeiros a sentir
urgente necessidade deste evangelho da libertação radical e integral. Sonegá-lo
seria defraudá-los e desiludi-los”.
A certeza básica de qualquer teólogo “é a de que
só é teologia aquela reflexão sobre a fé em que o ‘lumen fidei’ da revelação
divina é o princípio último e o critério da verdade (padre Félix Pastor, sj)”.
O teólogo é movido pela palavra de Deus. Produz teologia sob o manto do
Espírito de Deus na rigorosa disciplina mental auscultando os desígnios de Deus
e confrontando-os com a realidade. A Teologia da Libertação não morreu, pois é
um caminho místico: “Aquilo mesmo mediante o qual a teologia é ciência é aquilo
pelo qual ela é mística (Marie-Dominique Chenu)”.
Essa escola espiritual é feita de larga tradição
de muitos patriarcas e matriarcas: Bartolomeu de las Casas, São Pedro Claver,
São Martinho de Lima, Francisco Solano, Toribio de Mongrovejo, Santa Rosa de
Lima, Santo Antonio Maria Claret, José Antônio Pereira Ibiapina, Juventude
Universitária Católica, Comunidades Eclesiais de Base, Paulo Freire, Candido
Padim, Richard Shaull, Rubem Alves, Hugo Assmann, Leonardo Boff, Carlos
Mesters, Clodovis Boff, João Batista Libanio, Jurgen Moltmann, Johan Baptist
Metz, Karl Rahner, Edward Schillebeckx, Jean-Yves Congar, Fernando Gomes,
Manuel Larrain, Ivone Gebara, Milton Schwantes, Orestes Stragliotto, Frei
Betto, Elza Tamez, Antonio Cecchin, Ronaldo Munhoz, Raul Vidales, Enrique
Dussel, Franz Hinkelammert, Enrique Angelelli e Gustavo Gutiérrez entre tantos
outros.
E neste largo peregrinar da fé dos pequeninos
assume os versos de Drummond: “Como vencer o oceano se é livre a navegação, mas
proibido fazer barcos?”.
A tarefa da teologia é produzir
remos para que o barco da Igreja se lance ao mar e, submetida ao Espírito
Santo, acuda os náufragos que confiam suas frágeis existências àqueles que
conduzem os instrumentos de salvação guiados pelo Pai de Jesus Cristo.
Testemunhas fiéis dessa ação de amor preferencial
aos pobres são os mártires que tombaram na luta contra a injustiça. São os
filhos amados da Igreja que oferecem o óbolo de suas vidas: Santo Dias da
Silva, Adelaide Molinari, Cleusa Nascimento, Dorothy Stang, Josimo Moraes
Tavares, Ezequiel Ramin, Rodolpho Lunkenbein, João Bosco Penido Burnier, Oscar
Romero, Enrique Angelelli, Antonio Pereira Neto, Francisco de Pancas, Purinha
de Linhares, Paulo Vinhas de Vitória, Verino Sossai de Nova Venécia e Gabriel
Felix Roger Maire. Leigas, religiosas e sacerdotes que sofrem perseguição ao
viver na carne o amor aos aflitos. Há hoje quem censure bispos como d. Luciano
Mendes de Almeida, d. Ivo Lorscheiter, d. Adriano Hypolito, d. Pedro
Casaldáliga e o próprio cardeal Paulo Evaristo Arns por misturarem o vinho
forte da sabedoria de Deus com a água do compromisso social. Eis a resposta de
Santo Tomás: “Para o teólogo que faz bem seu trabalho, o vinho não é
enfraquecido com a água, é antes a água que se transforma em vinho”. Ou
parafraseando Blaise Pascal: “Todas as teologias não valem um gesto autêntico
de solidariedade com os pequeninos”.
Fernando Altemeyer Júnior
Teólogo,
doutor em ciências sociais, professor nas Faculdades Claretianas,
na UNISAL, na
EDT e na PUC-SP
Fonte:
Site Teologia da Libertação.
A tarefa da teologia é produzir remos para que o barco da Igreja se lance ao mar e, submetida ao Espírito Santo, acuda os náufragos que confiam suas frágeis existências àqueles que conduzem os instrumentos de salvação guiados pelo Pai de Jesus Cristo.
Testemunhas fiéis dessa ação de amor preferencial
aos pobres são os mártires que tombaram na luta contra a injustiça. São os
filhos amados da Igreja que oferecem o óbolo de suas vidas: Santo Dias da
Silva, Adelaide Molinari, Cleusa Nascimento, Dorothy Stang, Josimo Moraes
Tavares, Ezequiel Ramin, Rodolpho Lunkenbein, João Bosco Penido Burnier, Oscar
Romero, Enrique Angelelli, Antonio Pereira Neto, Francisco de Pancas, Purinha
de Linhares, Paulo Vinhas de Vitória, Verino Sossai de Nova Venécia e Gabriel
Felix Roger Maire. Leigas, religiosas e sacerdotes que sofrem perseguição ao
viver na carne o amor aos aflitos. Há hoje quem censure bispos como d. Luciano
Mendes de Almeida, d. Ivo Lorscheiter, d. Adriano Hypolito, d. Pedro
Casaldáliga e o próprio cardeal Paulo Evaristo Arns por misturarem o vinho
forte da sabedoria de Deus com a água do compromisso social. Eis a resposta de
Santo Tomás: “Para o teólogo que faz bem seu trabalho, o vinho não é
enfraquecido com a água, é antes a água que se transforma em vinho”. Ou
parafraseando Blaise Pascal: “Todas as teologias não valem um gesto autêntico
de solidariedade com os pequeninos”.
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